Educação

PRECISAMOS CUIDAR DOS SENTIMENTOS DAS NOSSAS CRIANÇAS NA QUARENTENA.

Olá, pessoal! Espero que todos estejam bem!

 

Hoje quero fazer quase que um alerta: precisamos cuidar dos sentimentos das nossas crianças! Precisamos fazer isso sempre, mas nesse momento de isolamento social necessitamos cuidar ainda mais dessa questão. Sou professora, com a quarentena estou dando aulas virtuais e tenho percebido como as crianças estão impactadas com o que estão sentindo e percebendo do mundo, e à medida que o tempo passa, parece que fica cada vez mais desafiador elas lidarem com esse turbilhão de emoções.

Falar de sentimentos num estado de normalidade, se podemos assim dizer, já é algo complexo, pois não fomos educados para isso, não estamos acostumados a expressar aquilo que estamos sentindo e, muitas vezes, temos bastante dificuldade em reconhecer aquilo que está se passando dentro de nós. Isso porque na nossa sociedade falar sobre os nossos sentimentos é quase que um tabu: não podemos demonstrar nossas fraquezas, pois dessa forma nos mostramos frágeis e no nosso mundo somos impelidos a ser fortes o tempo todo e a qualquer custo.

Bom, se já é tão difícil falar sobre o que sentimos, imaginem agora que estamos inseridos num contexto em que não sabemos o que vai acontecer, não temos o controle de como serão os próximos dias e semanas e nossa rotina foi completamente modificada. Tudo está ainda mais potencializado. Justamente esse clima de incertezas provoca em nós sentimentos e sensações que nunca vivemos antes, e como nunca vivemos, não sabemos como lidar com eles.

Eu preciso enfatizar aqui que não há sentimentos certos ou errados, bons ou ruins. Todos os sentimentos são válidos! Podemos sentir tudo. Faz parte do ser humano! O que acontece é que os sentimentos emergem das nossas necessidades, quando nossas necessidades são atendidas são gerados sentimentos agradáveis. Por outro lado, quando nossas necessidades não são atendidas são suscitados sentimentos desagradáveis. Nossos sentimentos são como mensageiros que comunicam aquilo que está acontecendo dentro de nós. Vou dar alguns exemplos para ficar mais claro: temos necessidade de amor, cuidado, afeto e conexão, e passar esses dias desfrutando da companhia dos familiares atendem essas necessidades e isso faz com que sintamos alegria, animação, satisfação. Em contrapartida, temos necessidade de segurança emocional, previsibilidade, estabilidade, espaço e no contexto de confinamento com a pandemia ainda não controlada não conseguimos ter estas necessidades atendidas, o que pode nos gerar angústia, ansiedade, raiva, tristeza, frustração, entre outros. Estamos num momento com muitas necessidades não atendidas, por isso tem dias que estamos bem, mas há outros repletos de sentimentos desconfortáveis e desagradáveis.

Assim como nós, as crianças e os adolescentes também estão se sentindo angustiados diante de tantas incertezas. Mas para eles a situação é ainda mais complexa, pois, em função do próprio desenvolvimento do pensamento, eles ainda não dão conta de pensar hipoteticamente, de fazer previsões, de ponderar diferentes estratégias e então vem o choro, os gritos, a “manha”, as “birras”, os conflitos da convivência. Assim sendo, nós adultos, pais, mães, familiares, temos que tomar a frente dessa situação para auxiliá-los a lidarem com toda a confusão interna. O caminho é fazer o exercício de perceber qual é a necessidade que está por detrás daquilo que está sentindo. Somente reconhecendo os sentimentos, conseguindo expressá-los e os tendo validados pelos outros é que as crianças vão ter condições de criar estratégias para lidarem com eles.

Aqui cabe dizer aos pais para não se sentirem responsáveis pelos sentimentos desagradáveis que as crianças estão sentindo. Sei que por vezes nos culpabilizamos pelas crianças: se meu filho está chateado é porque falhei de algum jeito, não estou sabendo ser uma boa mãe ou um bom pai, porém não é essa a ideia. Cada ser humano é único e tem seus próprios processos de sentir. Claro que os adultos devem cuidar de auxiliar as crianças a compreenderem suas necessidades, e o melhor jeito de fazer isso é acolhendo, se colocando junto.

Não devemos menosprezar aquilo que as crianças estão sentindo e dizendo, não podemos respondê-los com expressões como: “Não é nada!”, “Não liga! Isso é besteira!”, “Você não pode sentir isso!” “Jajá passa.”, “Ficar triste/com raiva é feio!”, “Não precisa ficar chateado!”. Quando temos nossos sentimentos menosprezados, tendemos a abafá-los ao longo do tempo, censurando-os. Quando censuramos aquilo que sentimos, perdemos a capacidade de lidar com os sentimentos, pois inconscientemente pensamos: se sentir-se angustiado, triste, irritado é ruim, então eu não posso sentir. Mas, a grande questão é que não conseguimos controlar o que sentimos e só vamos conseguir lidar de maneira saudável com os sentimentos, podendo reconhecê-los, expressá-los e refletindo nas nossas ações a partir deles.

Essa tarefa de modo algum é simples ou fácil. Muitas vezes, quando percebemos já atacamos, criticamos e não permitimos que o outro explicite aquilo que está sentindo. Outras vezes, não há uma solução para resolver a situação e nos sentimos impotentes de apenas nos colocar à disposição para conversar e liberar esse espaço ocupado por sentimentos desagradáveis. É um exercício diário! Por isso, convido-os a criarem um espaço acolhedor para que todos, aí na casa de vocês, possam se sentir confortáveis em dizer aquilo que estão sentindo. Somente conseguindo demonstrar os sentimentos, percebendo que o outro também está sentindo, é que conseguiremos propor algumas estratégias para vencer de maneira mais saudável essa situação e para que no fim de todo o processo possa haver aprendizagens para a vida.

 

Beijos virtuais,

Até a próxima!

Lívia Alonso Tagliari

 

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