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Foi nos parques da vida

Posso dizer que, alguns alertas começaram em uma certa tarde quando levei minha filha, na época com seus quatro anos, a um parquinho nas proximidades de casa, lá estavam seus coleguinhas e também suas coleguinhas, típica cena de lazer urbano, um amontoado de crianças e pais comprimidos em um oásis de verde cercado por frondosas ruas e avenidas.

Em determinado momento chega mais uma coleguinha que pouco frequentava aquele espaço, seus pais trabalhavam fora por todo o período do dia, ela era conduzida até o local por sua cuidadora, a dona Esther. Logo chegaram e se locaram bem próximo de um grupo de pais, Dida a menina, sem avisos prévios começou a rebolar e se contorcer com alguns gestos, digamos, um pouco estranhos para seus tenros três anos de idade.

E não bastasse toda aquela performance corporal, Dida começou a balbuciar algumas palavras pouco entendíveis, mas não era preciso ser fluente em “Didês” para decifrar frases daquela canção. Como muito observador que sou, inclinei meus olhares para os lados e me deparei com uma dezena de pais com faces congeladas e expressões retorcidas. Afinal, estavam eles, nós, em um parquinho e Dida parecia mergulhada, quase abduzida em um baile funk. Por mimese algumas crianças mais próximas da bizarra cena começaram a acompanhá-la inclusive minha filha. Céus.

Percebi que dona Esther, a cuidadora, distraída ao acontecimento segurava um celular que tocava algo, fui me aproximando devagarinho contando os pássaros, chutando pedrinhas, assim como não quer nada me achegando para ouvir de pertinho o som emitido pelo aparelho. Entendi.

Num flash tudo fazia sentido, Dida estava reproduzindo o que escutara, e a dança? Pensei por segundos e concluí, Dida baseava-se naquilo que ouvia e em que via, então ela estaria assistindo aquelas coisas ou dona Esther…. Também dançava?

Foi nesse exato instante que um clarão se abriu aos meus olhos e uma voz gritou em minha consciência “eu preciso cuidar mais da formação auditiva de minha filha”.

No caminho, de volta para casa, fui cantarolando alguns sucessos populares infantis para ver se algum emplacava, pensando em eu e minha filha criarmos um motivado dueto. No final, passamos parte daquela noite nos esbaldando com músicas de grupos infantis consagrados revezando-nos em apresentações, na plateia, bem-comportada, nossos quatro cachorros com ares de nada entenderem daquilo que estavam presenciando, lembrei dos pais. O susto passou e desse dia em diante a vigilância dobrou.

lourenço-artigo

Lourenço José Pereira

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1 COMENTÁRIO

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    Marcos Paiva Diz:

    julho 27, 2024 at 10:39 pm

    Parabéns pelo texto e conteúdo. Grande abraço!

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