Educação

Conviver convivendo

É dever dos pais e da sociedade prover as crianças de condições para que vivam suas fases de desenvolvimento de forma segura, diversa e recheada de aprendizagens compatíveis com as faixas etárias. Ah, aprender para muitos se restringe a ler, escrever, inglês e fazer conta. Este é um risível engano, que pode trazer lágrimas em tempos posteriores.
Têm sido preocupantes as conversas com pais quando se discute as dificuldades sociais de seus filhos (meus alunos), referente a agressividade, a falta de companheirismo, a não percepção do tempo do outro, a conversas excessivas e em momentos inadequados, entre tantas, ao estarem presentes entre os pares aprendizes dentro do espaço escolar.
A preocupação é ainda maior quando percebo que as crianças, enquanto em casa, ficam confinadas dentro dela, sem possibilidades de brincar nas ruas mesmo que rodeados por muros em condomínios. É fato que, em várias regiões, somos subtraídos até das calçadas para se andar com segurança nas ruas, o que se dirá para brincar nelas? Esta é uma situação comum para as comunidades menos abastadas como as das periferias, assim como às mais ricas que vivem nos bairros mais elitizados, ambas no medo e na insegurança. O que resta às crianças além de televisão, celular, tablets e jogos eletrônicos?
Para muitos pais os equipamentos eletrônicos têm sido uma forma de distração e de dar segurança aos seus filhos, sem que se percebam das perdas pela falta das relações sociais entre os pequenos. Essa segurança começa a ser quebrada quando se ouvem notícias de seriados e jogos suicidas ou assassinos pela internet, em que jovens adolescentes se envolvem cercados pelas paredes do quarto, absortos pela tela em longos momentos de solidão. Porém, acredita-se, ainda, que as crianças estão em relacionamentos adequados com vários “amigos desconhecidos”.
Qualquer fazer que nos propomos a aprender o aprendemos fazendo: falar – falando, jogar – jogando, escrever – escrevendo, cozinhar – cozinhando, plantar – plantando, e assim… tudo!
As grandes dificuldades que se percebe hoje nas crianças, adolescentes, jovens adultos e em muitos adultos jovens se remetem às relações sociais, aos cuidados com o outro, aos desejos imediatos, ao consumismo, ao ter como forma de sucesso. E, ao aprofundar um pouco o olhar na tentativa de identificar os motivos nota-se o empobrecimento, já de alguns anos, dos espaços de convívio e aprendizagens sociais. Crianças só aprendem a respeitar a outra convivendo com outras. As famílias com seus poucos filhos têm que se organizarem com os filhos das outras famílias num espaço favorável, livres para brincar, com ausência de eletrônicos e presença dos olhos distantes dos adultos, pois este brincar é inerente a todas as crianças. Quem já foi criança e brincou sabe do que estou falando. O brincar que ensina o convívio social só se aprende brincando com seus pares!

Márcio Macarini

Pieter Brueghel – Jogos Infantis, 1560
(domínio público)

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