Lourenço Pereira
Lourenço tem toda a sua formação voltada para as linguagens de artes visuais, trabalha a mais de vinte anos com crianças e jovens nas diversas frentes da educação. lorezjose@hotmail.com
D’oh!
Coincidência ou acaso. Foi esse o som que reverberou em minha cabeça, naquele momento vazia, logo após ouvir a indagação de minha filha:
– “Pápi, posso assistir Os Simpsons hoje? ”.
Um longo silêncio pairou sobre nós. Neste dia, ela grassava seus nove longos anos de vida e a classificação etária do desenho é para doze anos, ainda em silêncio e fazendo as contas rapidinho, faltavam três anos.
Respondi para ela enfático com ar de surpresa, boa claro, afinal, em minha opinião Os Simpsons é muito bom em diversos aspectos:
– Filha, senta aqui e vamos conversar sobre seu pedido.
Sentei-me ao seu lado no sofá e começamos uma longa conversa, primeiro lhe perguntei onde foi que ouviu falar dos Simpsons, de pronto sai a resposta, lógica:
– Na televisão.
Retornei o diálogo em tom de brincadeira pensando deixá-la bem descontraída, e ela completa:
– Foi na da casa da Cá.
Então concluí, as duas espertinhas curiosas emprenhadas por alguma fresta assistiram a um fragmento ou algum episódio. Que bom, se vermos o ocorrido por um ângulo maior, pois sabemos, a curiosidade é um grande motivador de descobertas e de aprendizagens.
Retomei nossa conversa, com ar de maior seriedade e comecei a discorrer particularidades da consagrada série de tv, e fui explanando, da forma mais clara possível a respeito das características dos personagens, a cerca de alguns desvios de personalidade e de comportamento, sobre o vocabulário utilizado, comentei quais assuntos e temas eram abordados, e fui investindo o meu tempo a fio visando sua melhor compreensão. Prossegui explanando as minúcias do Homer, do Bart, da Lisa, como do Moe e do Flanders, e ela ouvindo tudo bem atenta. E este, foi mais um bom momento para reforçarmos nossos laços de confiança e de colocar em questão os valores por nós difundidos.
Em minhas reflexões internas, durante a conversa, acreditei não ser producente uma taxativa proibição naquele momento, as proibições. Pois analisando as circunstâncias ela me pediu para assistir, aguentou toda minha verborrágica explanação e eu precisava aproveitar essa oportunidade para garantir, com responsabilidade, uma boa inserção de minha filha ao universo de uma animação diferenciada. Ainda que, guardadas as particularidades já havíamos assistidos, coerentes a sua idade, as mais inusitadas formas e temáticas de animação com o Anima Mundi. A animação é uma paixão familiar.
Assim, propus um combinado:
– Fi, quando você completar dez anos assistiremos juntos Os Simpsons, nós dois, pode ser assim? ”.
Pensei ganhar mais um tempo para me “apropriar” melhor sobre meandres da série, porém, com um ar de satisfação ela me olhou, e de pronto sem tempo para reação, ouvi:
– Então tá, falta menos de um mês para meu aniversário.
D’oh! Nem me dei conta que estava tão perto.
D’oh! É um bordão utilizado pelo personagem Homer Simpson, de The Simpsons. O bordão de Homer foi adicionado ao Oxford English Dictionary em 2001,[1] sem apóstrofe. Seu significado é: frustração quando as coisas não saem como o previsto. Em: https://pt.wikipedia.org/wiki/D%27oh!
Lourenço Pereira
Daniela Diz:
dezembro 02, 2024 at 12:58 pm
kkkkk adorei, Lô!! Saudade de vc e de seus “causos”. Enquanto nós pensamos, pensamos, pensamos mais um pouco, na melhor forma de solucionar uma questão, queremos aproveitar cada momento para educar, criar vínculos, respeitar nossos filhos… eles nos mostram que a simplicidade característica da infância nos ensinam muito mais…rsrsrs… um grande beijo, meu amigo!