Tenho visto os conflitos entre jovens e adolescentes cada vez mais aterrorizadores quando esses se dão pela tecnologia, enraizada em suas mãos. Por vezes, tomam dimensões que ferem pessoas com gravidades amplas e, em alguns casos, irreversíveis, como vemos em noticiários.
Sendo assim, me ponho a relatar e fazer uma analogia sobre uma passagem recente com a minha família: há poucos meses percebi que fui incluído em um grupo no whatsapp. Eram mais de trinta mensagens, fato que trouxe certo incômodo, mas, ao abri-las, vi a preocupação com a saúde do meu pai que iria fazer exames médicos. Participei no grupo e me posicionava como ciente das notícias e comentava o empenho da minha irmã em acompanhar toda a situação.
Por fim chegou a notícia de um câncer e uma cirurgia em vista. Assim ocorreu. Após a intervenção e biópsia, vieram duas informações: um câncer agressivo na bexiga; totalmente localizado, sem nenhuma ramificação. O alívio de um tratamento tranquilo com aplicações de BCG, sem indicações de quimioterapia ou outra intervenção com prejuízos colaterais à saúde.
Em paralelo com o mau uso do celular, estabeleço uma relação do tal equipamento tecnológico com um novo tipo de câncer muito agressivo e que afeta os jovens escolares. É um câncer social que ocorre devido à má alimentação e digestão das conversas nas redes sociais.
Para explicar, convido o leitor a estabelecer a relação entre o câncer, pontual, do meu pai e um conflito entre duas pessoas. Ou seja, um conflito, também pontual, que pode ser resolvido entre os dois envolvidos ou até por algumas pessoas mais próximas a intermediarem.
Mas, devido à imaturidade ao usar a tecnologia, os jovens levam o conflito a se espalhar e se ramificar numa rede social ampla. A metástase da discussão inicial afeta várias outras pessoas e provoca um tratamento que pode tanto cuidar das células de origem do conflito, quanto destruir as células sadias ao seu redor, como acontece com a quimioterapia ou radioterapia.
O fato é que estamos vivendo um momento em que a sociedade se preocupa com a alimentação saudável de seus filhos e de suas filhas, mas não têm conhecimento nenhum sobre o desenvolvimento da maturidade. É comum, em conversas com pais e mães, ouvir-se a ignorante frase: “o mundo mudou, temos que ensinar os filhos a terem responsabilidades ao se comunicarem no celular”. Ao que me remete a sugeri-los a dar, nas mãos das crianças de oito, nove, dez anos os seus carros para irem, sozinhos, à escola, mas que dirijam com responsabilidade.
Como trabalho com desenvolvimento corporal e habilidades motoras, tenho clareza de que as crianças de oito anos ou um pouco mais têm plena condição de habilidades de movimentos para dirigir. Mas a sociedade os impede, por lei, porque ainda não desenvolveram (assim como todos nós, enquanto crianças ou adolescentes) a capacidade mediadora, localizada no lobo frontal do cérebro, que ocorre por volta dos dezoito anos. É por isso que quando há um problema judicial entre crianças em conflitos e assédio moral via tecnologia, os responsáveis são os pais, donos dos CPFs e quem pagam as contas. O mau uso das redes sociais, comum aos jovens, é como um câncer a provocar metástases que contaminam as famílias e as amizades, traçando cicatrizes profundas em indivíduos (e suas famílias) que iniciam suas vidas em sociedade. Será que os pais adquiriram maturidade e responsabilidade para perceberem isso?
Márcio Macarini, 03 de setembro 2017
Luciana Diz:
dezembro 12, 2024 at 10:11 pm
Muito importante este alerta. O uso da tecnologia é importante, mas como tudo tem dois polos. Temos que ficar atentos.
Tatiana Diz:
dezembro 12, 2024 at 01:50 pm
Ótima analogia e reflexão! Na minha visão está claro a grande dificuldade dos pais em lidar c o mundo tecnológico. Nós, pais nascidos entre 70 e 80 “pegamos” a transição p o mundo tecnológico. Ficamos entre dois mundos e ainda com a responsabilidade mais difícil, educar uma criança, numa fase de transição para uma nova forma de vida. Acho que ainda não temos muita clareza de como as coisas ficarão daqui um tempo, mas quero acreditar que o prognóstico será bem melhor que esse diagnóstico pessimista que temos hoje.