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Larissa: uma aluna com transtorno de humor.

Larissa: uma aluna com transtorno de humo

O ano letivo de 2017 começou… Encontrei Larissa no refeitório almoçando com uma coleguinha. Elas eram as únicas atrasadas, pois as turmas já estavam subindo para as salas. Presencio o momento em que a inspetora cobra de Larissa e de sua amiga a finalização do almoço. Subi para o último andar para organizar o meu material. Minha aula seria mais tarde naquele dia.

Mais ou menos meia hora depois resolvo passar na sala da coordenação para tirar algumas dúvidas. Olhei para o corredor e vi Larissa emburrada conversando com a nova professora da sala dela de 2º ano, que não conseguia convencê-la a entrar. A professora não podia ficar muito tempo ali, pois tinha quase 30 alunos aguardando-a. Deixou-a aos cuidados da inspetora e voltou para a sala. A inspetora, por sua vez, pediu para que Larissa entrasse na sala.  Bastou  para que ela tivesse um surto, deitando no chão, no meio do pátio, fazendo birra e chorando.

Vou abrir uma parênteses sobre o perfil de Larissa: não gosta ser contrariada, não gosta de ser corrigida, não gosta de ser cobrada e não suporta nenhum tipo de questionamento sobre sua postura, mesmo estando errada.  Se analisarmos superficialmente sua personalidade diria que se trata de uma criança com uma enorme falta de educação e de limites. Observando-a no dia-a-dia, percebo que há outros problemas por trás desse suposto transtorno de humor e que, até o momento, não consegui identificar quais seriam.

Larissa ficou jogada no chão, pois ninguém conseguia tirá-la de lá. Nesse momento subiu para o último andar a Assistente de Direção. Perguntou para Larissa o que ela faz ali no chão e pediu para que ela fossse para a sala. De maneira bem mal-educada ela berrou e chorou dizendo que não iria sair dali. A Assistente insistiu em convencê-la a ir para a sala, mas parecia que ela ficava cada vez mais irritada. Eu assistia a toda a cena da sala da coordenação, que fica bem em frente à sala de Larissa. Comentei com a Coordenadora, que também observava o ocorrido, que de nada adiantaria falar assim com ela. Como tenho uma certa afinidade com essa aluna, a Coordenadora pediu que eu fosse até ela e tentasse tirá-la do chão.

Fui até o pátio, abaixei bem rente ao chão e questionei: vamos até a sala dos professores  um pouco comigo? Larissa prontamente me deu a mão e levantou… ela já não aguentava mais ficar ali jogada no chão. Não comentei nada sobre a sua postura horrorosa naquele momento, pois já vivenciei uma situação parecida, e simplesmente convidei-a para ir dar aula comigo. Avisei a inspetora e levei Larissa para a minha turma do 3º ano. Enquanto os alunos trabalhavam ofereci o calmante mais eficaz que poderia dar para Larissa: o desenho. Quando ela já estava bem calma comecei a falar que ela teria que conhecer a nova professora e que precisaria obedecer as regras da escola.  Falei sobre a sua inteligência no domínio do alfabeto e que ela logo aprenderia a ler. Como eu teria a aula seguinte vaga, perguntei se ela não queria ir pra sala dela comigo. Prontamente ela abriu um sorriso e aceitou.

Perguntei para a sua professora se poderia assistir a aula com Larissa. Ela falou que sim e sentamos ao fundo da sala. A professora, muito competente, falava com os alunos sobre a preservação da natureza e sobre o uso consciente da água, mostrando como beber a água da escola sem desperdício. Ela falava o tempo todo com um microfone acoplado próximo ao rosto. Vi que Larissa estava encantada… de repente ela olhou para mim e perguntou “Ela é mágica?” Naquele momento eu precisaria ser perspicaz. Usei a fértil imaginação de Larissa e afirmei: “Sim, ela é mágica e vai fazer você aprender a ler bem rapidinho”.

Larissa estava em êxtase. Aproveitei o encantamento dela e disse que sairia um pouquinho. Deixei-a feliz, iniciando o estreitamento de laços com a sua nova professora.

O que controlou o seu transtorno de humor naquele dia? A paciência, o diálogo e a minha disponibilidade em acompanhá-la individualmente. São ações que, infelizmente, são inviáveis no dia-a-dia corrido de uma escola municipal – provavelmente teríamos que esperar que ela aclamasse por si e que resolvesse, de boa vontade, entrar em sua nova sala de aula.

Por que Larissa é assim? O que sabemos até agora é que ela tem um transtorno de humor e que a firmeza educacional que todo professor tem não funciona como mecanismo de educação nos diversos desafios enfrentados por Larissa em nossa escola.  Eu e sua professora descobrimos, há pouco tempo, parte do motivo de seu transtorno. Mas isso é assunto para uma outra história sobre a menina Larissa.

Andrea de Cassia Giunta

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