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A Importância dos Primeiros Anos para o Desenvolvimento

No último artigo dissemos que o desenvolvimento na infância está relacionado com o desenvolvimento ao longo de toda a vida, o que implica em dizer que o desenvolvimento das crianças bem pequenas tem impacto direto em seu desenvolvimento e na pessoa adulta que elas irão se tornar. Muitos poderão se perguntar: será mesmo verdade? Isso não contradiz a própria noção de desenvolvimento? De que forma isso acontece? Por que isso acontece?
Ao longo de toda a primeira infância, desde a gravidez, todos os ambientes em que a criança está inserida, bem como a qualidade dos seus relacionamentos com o Outro, seja pais, avós, cuidadores, professores e a família, têm implicações diretas e significativas no desenvolvimento infantil em todos os seus aspectos – físico, emocional, linguístico, social.
Há muitos estudos que se dedicam a mostrar que as crianças em seus primeiros anos de vida que têm relacionamentos estáveis, estimulantes, responsivos e ricos em experiências de aprendizagem obtêm benefícios permanentes para toda a sua vida. Ao passo que crianças que desde a primeira infância são expostas a situações de estresse, negligência, abuso ou muitas adversidades podem ter seu desenvolvimento prejudicado. Em resumo, podemos sim afirmar que o desenvolvimento da criança do seu nascimento até por volta de seus cinco ou seis anos cria a base, o alicerce de todo seu desenvolvimento.
Isso acontece porque a capacidade de mudança cerebral diminui muito com a idade. No começo da vida, o cérebro é mais plástico, ou seja, mais flexível, moldável, modelável, capaz de dar forma. Isso quer dizer que nos primeiros anos de vida é possível acomodar uma grande variedade de situações e experiências, contudo com o passar dos anos, o cérebro torna-se mais especializado e menos capaz de se organizar. Jack P. Shonkoff, um pesquisador de Havard, cita, por exemplo, que ao final do primeiro ano, as regiões do cérebro que diferenciam sons começam a se especializar de acordo com o idioma que o bebê ouve. Ao mesmo tempo, o cérebro começa a perder a habilidade de reconhecer sons diferentes encontrados em outros idiomas. Isso que dizer que apesar das “janelas” para a complexa aprendizagem da linguagem e de outras habilidades permanecerem abertas, modificar esses circuitos e conexões cerebrais torna-se cada vez mais difícil ao longo do tempo.
Podemos compreender, portanto, que devido à perda da plasticidade cerebral inicial é mais eficaz e eficiente influenciar o desenvolvimento cerebral de um bebê a ter que reconstruir e reconectar situações já estabelecidas na adolescência ou na vida adulta.
Tudo isso não quer dizer que consideramos que a criança não possa ser contrariada, que não passe por nenhuma dificuldade e tenha todas as suas vontades e desejos atendidos. O que queremos salientar é que embora aprender a enfrentar adversidades faça parte do desenvolvimento saudável da criança, o estresse prolongado e excessivo pode ser prejudicial para o seu desenvolvimento. Em contrapartida, quando a criança tem vínculos bem constituídos, ela se sente muito mais segura e protegida para passar por momentos difíceis e acaba aprendendo a lidar e enfrentar os desafios do cotidiano.
Deixo aqui a indicação de um documentário, O Começo da Vida com direção da Estela Renner que se dedica a mostrar de forma apaixonada e sensível a importância dos primeiros mil dias na formação de cada indivíduo.
Até o próximo papo!
Lívia Alonso Tagliari
li.tagliari@gmail.com

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1 COMENTÁRIO

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    Avatar
    SHIRLEI PIO PEREIRA FERNANDES Diz:

    julho 27, 2024 at 07:31 pm

    Assisti esse documentário , O Começo da Vida com direção da Estela Renner, indicado pela Lívia. Muito bom! Sugiro que ela escreva um artigo comentando esse material, a forma como ela fala do documentário é muito empolgante, e eu concordo vale a pena!

    Bj.

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